Quinze meses após plantar 1.250 mudas de café robusta amazônica, seu Roque Schinel, 64, testemunha a formação de grãos do cultivo implantado experimentalmente em seu sítio na zona rural de Bonfim, cidade situada na fronteira do Brasil com a Guiana.
“Já dá pra dizer que temos a certeza que o café robusta amazônica, se for bem conduzido, vai ser muito importante pra fortalecer o setor primário de Roraima”, declarou.
“Vai dar uma produção extraordinária, principalmente pra agricultura familiar, que com áreas pequenas, dá pra ter uma rentabilidade boa, uma segurança financeira e econômica para as famílias”, enfatizou ele, que espera colher, até dezembro, aproximadamente 30 sacas do produto e, então, poder ampliar a área de plantação do café.
O proprietário do sítio revelou, ainda, que já existe uma empresa interessada em sua produção. “Eles têm nos procurado pra ficar com a produção, que embora pequena, gerou interesse deles em torrar o nosso café”, disse.
Seu Roque foi um dos beneficiados pela distribuição de aproximadamente 50 mil plantas, enviados a Roraima pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de Rondônia, em parceria com a unidade de Roraima, prefeituras e o governo estadual. A ação teve o intuito de implantar o polo cafeeiro no Estado.
“O Estado de Roraima já tem uma tradição na produção, em especial nas comunidades indígenas, onde já se produzem café e hoje nós já temos uma unidade de torrefação, que inclusive está ampliando a sua capacidade de beneficiamento”, destacou o secretário estadual de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação, Emerson Baú.
“Trouxemos mudas com material genético da melhor qualidade, selecionado especificamente para o Estado e para toda a região amazônica, altamente produtivos e adaptados às nossas condições”, disse o chefe da Embrapa Roraima, Edvan Alves.
Adaptação
O robusta, cujo nome científico é Coffea Canephora, é uma espécie desenvolvida em Rondônia e costuma se adaptar melhor a regiões mais quentes e com baixa altitude, como a amazônica. Segundo o pesquisador da Embrapa Rondônia, Marcelo Curitiba Espindula, o café plantado em Roraima se adaptou à temperatura roraimense.
“Pela similaridade de clima da Amazônia e do cerrado, a gente acredita que esse material vai se desenvolver bem. Os primeiros resultados foram promissores. A gente está vendo plantas em estágio vegetativo ainda e tem que esperar a parte produtiva, mas a expectativa é que ele se adapte às condições devido à semelhança de clima [com Rondônia]”, explicou.
Espindula está em Roraima para ministrar, aos produtores rurais locais, palestra sobre as futuras perspectivas de plantar o robusta no Estado, mostrando os resultados alcançados em outros estados. É o caso de Rondônia, segundo maior produtor de café do País, que em 2021, fechou com 67,7 mil hectares de área produzida (equivalente a quase 68 mil campos de futebol) e produziu 34,5 sacas por hectare, conforme a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Atualmente, Roraima costuma produzir menos de mil sacas anualmente. O pesquisador destaca que sua ideia não é essencialmente transformar o Estado no principal produtor de café no Brasil, mas dar uma alternativa, especialmente aos pequenos produtores rurais, que poderão suprir a demanda interna – atualmente abastecida pelo mercado nacional. “O nosso objetivo é mostrar que é possível plantar café nesta região e ter renda com esse cultivo”, destacou o pesquisador, reforçando ainda que não é preciso desmatar a floresta amazônica para cultivar café.
Marcelo Curitiba explicou que a primeira colheita do café robusta pode demorar de 18 a 30 meses após o plantio, tempo que vai depender da época em que ele será plantado.
Durante a palestra, Espindula disse que a espécie produz “bem mais que o arábica” – cultivado no Sudeste, por exemplo -, e possui melhor facilidade de manejo. Ele explicou que a plantação do Coffea Canephora, para dar certo, precisa estar exposta à luz natural.
Apesar de orientado, seu Roque reconhece que não seguiu todas as dicas quanto a cuidados sanitários, à fertilização adequada, à irrigação e à abertura das bananeiras, onde as mudas foram plantadas, para diminuir as sombras. Marcelo Curitiba, por sua vez, enfatizou que, quanto maior a sombra, menor será a produtividade da planta.
O pesquisador da Embrapa elencou desafios a serem enfrentados pelos produtores locais, como a regularização fundiária e a insegurança energética. Dona de um sítio em Bonfim, Carmem Barroso Uchôa, 56, endossou um desses gargalos. “Nosso desafio está relacionado à regularização fundiária e à irrigação. Muitos não têm condição de ter irrigação com o intuito de ter uma produtividade e um resultado final fortes. Mas estou confiante no potencial do café”, avaliou.